O Cais Guanay
O projeto busca dar uma resposto ao baixo índice de trabalho que possuem os barqueiros e pescadores da zona (por causa do terremoto e tsunami de 27 de fevereiro de 2010) e, ao mesmo tempo, revelar uma importante identidade histórica quase esquecida. O cais localiza-se no Rio Maule, especificamente no rancho Astillero. O local de construção foi eleito por sua importante carga contextual, antiga casa de Jesuítas, “construtores do Falucho”, última embarcação do Guanay e símbolo da cidade de Constitución. O Guanay foi um reconhecido navegante fluvial, que viveu durante o apogeu da navegação, desenhando linhas no Vale Central, contentor das técnicas e métodos de construção na navegação.
Na atualidade o Guanay, junto com a navegação fluvial, são somente recordações distantes que pretende ganhar vida com o cais cuja lembrança permanece latente na sua essência. Cada elemento representa um dos navios no qual navegou. Cada peça, esculpida por um mestre ribeirinho, possui o mesmo diâmetro das quilhas utilizadas nos faluchos, projetando uma lógica construtiva própria do setor.
No verão, o cais permite o tráfego de turistas e pretende dar o primeiro passo para a ativação do lugar, outorgando uma maior infraestrutura para os barqueiros No inverno, os painéis que cobrem as armações são retirados, deixando o cais descoberto. Somente se revela seu esqueleto, a memória das quilhas e armações das antigas embarcações. O cais Guanay resgata a memória do navegante, sendo um ponto de atração para a herança coletiva, a identidade local.
Processo Construtivo
O Rancho Astillero, antigo estaleiro habitado por Jesuítas e atual estação do trem, El Ramal, possui uma floresta de ciprestes a beira do Rio Maule, que permitiu o trabalho “in loco” de cada uma das peças da construção.
O local de construção era acessível somente através de botes (Rio Maule), trem (El Ramal) e caminhos internos sobre a montanha. Isto provocava dificuldades quando se necessitava de materiais, energia elétrica e outros elementos que normalmente se utilizam no processo de obras. Por causa disto adaptou-se o método construtivo, utilizando as técnicas de antigas embarcações do rio.
A participação de um mestre artesão (Don Hugo Contreras, 74 anos) que através de suas ferramentas de trabalho, como a motosserra e o formão, conseguiu confeccionar cada peça e entalhe a unir-se na montagem. Cada peça deveria conter suas junções antes da montagem para evitar contratempos por causa de seu peso e tamanho.
Em paralelo à confecção das peças, a segunda equipe de trabalhadores cavou os poços das fundações. A complexidade desta etapa foi por sua proximidade ao rio, já que não contava-se com moto bomba. Utilizou-se a margem da maré baixa, durante o qual com a peça localizada no poço, esvaziou-se inserindo o concreto com acelerante.
Durante o processo de construção, mantiveram- os pilares no prumo através de cordas amarradas às árvores que rodeavam o local, o que remetia a algo como “içar as velas”.
Finalizando a cura, continuou-se com a localização das vigas aos pilares, ligando-os através de roscas e parafusos 3/8 “e 1/2″ galvanizados. Uma vez terminado o esqueleto, faltava apenas o elemento que proporcionaria função, a construção dos painéis de circulação.
Os painéis removíveis inseridos na estrutura de madeira de cipreste, são compostos de vigas de 2 x 6” e revestidos por 1 x 2” de pino tratado. Utilizou-se este revestimento tão fino, em comparação com o esqueleto, para propor um contraste, sendo que o painel é a função nesta trilha histórica.